Pelo meu direito de usar top na academia
Não sei se o desejo acima gerou essa reflexão ou se ele nasceu a partir de tantos conteúdos que me chegaram na última semana
Tenho alimentado um desejo, que se transformou em meta a ser realizada neste ano. Não é algo difícil de realizar. Ou é. No fundo, para mim é bem desafiador e por isso tenho me cercado de imagens de mulheres que me inspiram a abandonar um medo que poderia ser bobo, não fosse alimentado por uma sociedade que exalta um padrão estético que não leva em consideração a diversidade que compõe a população brasileira.
Eu vou à praia de biquíni, mesmo quando não me sentia confortável com isso. Apesar de toda pressão estética que sempre me cercou, nunca deixei de aproveitar um banho de sol, mar ou piscina - exceto quando meu medo pela água era maior que meu desejo de mergulhar. Mais uma conversa para outro momento. Retomando: apesar de ir à praia de biquini, eu não tenho coragem de fazer atividade física com a dupla top/bermuda ou top/legging, sem uma camiseta por cima. Não fazia isso nem quando era magra e, veja só, há amigas que estão dentro de um corpo considerado padrão que também não o fazem.
Veja, a princípio parece algo tão bobo, mas quantas camadas de complexidade há nisso. Quanto décadas consumindo conteúdos que afirmavam que a gente só seria realizada, amada, feliz se fosse magra? Quantos anos tendo como referências em novelas, filmes, séries, comerciais e revistas mulheres (extremamente) magras?
Não vou nem entrar (ainda) no mérito da ausência de mulheres negras e toda a diversidade da negritude na mídia. O que vemos atualmente é revolucionário, sobretudo para quem foi adolescente e jovem entre os anos 80 e 90.
Toda essa construção me impediu, até hoje, de usar uma simples roupa de ginástica. Até o presente.
Esta semana, a Maqui Nóbrega, como parte da campanha E se neste verão você não se deixasse pra amanhã?, da Natura citou uma pesquisa da Opinion Box que revela que “46% das mulheres deixam de ir à praia ou à piscina por não se sentirem bem com seus corpos”. Em um conteúdo no perfil da Opinion no Instagram li que 34% das pessoas fazem dieta para estar com um bom corpo. Isso revela nossa preocupação com o olhar do outro que, desejando nos julgar, assim o fará. Não importa se o corpo é o da Yasmim Brunet ou o meu. Porque em nossa sociedade ocidental, nossos corpos são de domínio público. Ops! Aqui não!

Também estes dias descobri um novo podcast, da Ju Ferraz, uma empresária poderosa do universo de eventos, que lida desde a infância com a gordofobia. Não por acaso, as três primeiras convidadas do #JuFerrazCast são mulheres de sucesso em suas carreiras que enfrentam desde sempre o olhar preconceituoso da sociedade sobre seus corpos. Foi, ao mesmo tempo, inspirador e dolorido ouvi-las.
Há um bom tempo passei a seguir pessoas nas redes sociais – aka Instagram mesmo – que gerem conexão comigo, seja por suas trajetórias, etnias, corpos e outros pontos de afinidade.
São mulheres como Maqui Nóbrega, Robertita, Angélica Silva, Gabi de Oliveira, Luanda Vieira, Carla Lemos, Carol Burgo, Tchulim que compartilham um pouco de suas trajetórias de vida e que contribuem para que eu abandone amarras que ainda me prendem a descrença sobre minhas potências.
E agora, eu quero realizar algo tão simples quanto usar um top de ginástica sem uma camiseta ou regata por cima.
São muitas as frustrações vividas quando a gente permite que a pressão estética pese em nossas decisões. Ano passado me apaixonei por uma saia da Farm; ela caiu perfeitamente com uma camiseta da mesma marca que eu desejava. Experimentei as duas peças juntas e: PERFEIÇÃO! Que dizer, quase... Acontece que o modelo da saia é desses justos, desenhava lindamente as curvas do corpo... e marcava minha barriga. Por mais que eu tenha amado a modelagem, a estampa e como ficou em mim, eu não a comprei. E até hoje eu penso nela.
Ao longo do último ano, vi mulheres com corpos fora do padrão usando o mesmo modelo, com a mesma ou outra estampas. Conforme fui seguindo mulheres com corpos diversos mais meu olhar normalizou que posso eu também usar a saia pela qual me apaixonei.
Já faz um tempo que eu não acredito mais em roupa como recurso para disfarçar isso ou aquilo. O lance da peça que alonga ou emagrece, sabe? Para mim, a moda, assim como maquiagem, é uma ferramenta para expressar emoção e personalidade. Para brincar com meu humor. Por isso, resolvi me desafiar a superar essas crenças que ainda me impendem de ter uma relação mais saudável não só com a moda, como também com meu corpo.
Para concluir – ou não – essa conversa, vou deixar aqui links que me inspiraram essa semana a essa reflexão.
Radiohel sobre “Autoestima”
Os três primeiros episódios do #JuFerrazCast, com Dani Rudz, Jéssica Silva e Rob Freitas
O texto dá Bertha Salles para a news da Associação Sem Carisma
Os compartilhamentos que a Robertita (além da própria) faz nos stories de mulheres grandes e/ou gordas treinando lindamente
Notícias do paraíso
Esta edição deveria ser enviada na quinta-feira, mas Boipeba tem sofrido com tempestades de raios e trovões, além de muita chuva. Isso fez com que a gente ficasse sem energia elétrica - e sem internet - várias horas por dia. Viver no paraíso tem disso também.
Que texto lindo! 🥰